O que é a felicidade para você?
Em entrevista com o sociólogo Zygmunt Bauman, pelo programa ‘Café Filosófico: Estratégias para vida’, ao devagar sobre “uma receita para felicidade”, Bauman cita que Sócrates considerava o segredo de sua felicidade o fato dele ter criado uma forma única (pessoal) dele viver a vida, depois diz que para cada ser humano há um ‘mundo perfeito’ feito especialmente para ele ou ela. Ou seja, cada um de nós deveria buscar as próprias receitas, encontrando respostas que criem ressonância para as buscas pessoais. Em seguida Bauman diz que infelizmente a maioria de nós continua a procurar suas pistas nos lugares errados.
Mas o que fazer para que essas pistas de realizações pessoais estejam cada vez mais próximas de nós? Sendo que pode ser difícil escolher o que queremos ou definir qual deve ser o nosso ponto de partida.
Vou jogar luz em algumas questões que podem nos tirar das próprias buscas. Sinto que nos perdemos muito ao nos habituarmos com o modelo mental que valoriza mais o resultado ao invés da alegria ao caminhar.
Facilmente podemos almejar o sucesso e não o contentamento com as pequenas conquistas (que diga-se de passagem, quase sempre estão associadas a muitas derrotas). Nossa sociedade hipervaloriza os primeiros colocados, as grandes lideranças, e com frequência dá pouca atenção aos retardatários. Cria-se então um modelo de idealização pelo excelente, pelo perfeccionismo, pelo belo corpo, a vaga perfeita, a grande inspiração, o projeto de vida. Alimentamos a lógica oposta aos dizeres “o ótimo é inimigo do bom”. Tornamo-nos assim pouco tolerantes à frustração, podemos ter muita dificuldade em aceitar o desempenho regular, o fracasso, a incerteza, a dúvida.
Nesse cenário, é possível que se busque com afinco a paixão de nossas vidas, o caminho dos muitos cifrões, a fama, o sucesso. Mas e o contentamento com a simplicidade? E o espaço para os erros? Onde estará a abertura para as nossas imperfeições?
Assim, pode ser difícil priorizar a conexão com aquilo que nos traz sintonia com o momento presente. Ficamos obsessivamente pautados por mais, pelo resultado afinal.
Gosto de um livro infantil que li muito com a minha filha, chamado “A felicidade de Laila”. Laila é uma doce menina de sete anos que com seus belos cabelos cacheados diz: “Eu acho que felicidade é quando estou subindo numa árvore, ou comendo espaguete sem garfo. Felicidade é quando meu pai me conta sobre a cidade onde ele cresceu e quando minha mãe lê poesia para mim. Felicidade é plantar sementes de tomate e ver elas crescendo no meu lugar favorito…”. Reparem no tempo verbal: sempre remetendo ao momento presente, a uma ação, e geralmente com outras pessoas ou com atos significantes para Laila. Felicidade para Laila nada tem a ver com conquistas, com resultados, com títulos, com posses.
Um grande estudo de Harvard que tentou descobrir o que traz felicidade para a vida das pessoas, constatou que as respostas para uma vida feliz não estão atreladas a uma grande carreira ou à grandes fortunas, mas sim à capacidade de mantermos relacionamentos de qualidade ao longo da vida. E manter relacionamentos positivos é uma arte que exige exercícios constantes de presença e de busca pelo contentamento nos processos trilhados. Robert Waldinge, psiquiatra e um dos responsáveis pelo estudo, sugere ainda que devemos nos perguntar com mais frequência: “estou fazendo as coisas que têm significado para mim?”.
O que é mesmo felicidade para você?
Lembre-se: procure a alegria no processo, no seu caminhar, e não apenas no resultado final.
Autor: Felipe Moretti
