Você se cobra muito?
Você anseia demais por metas que podem estar te fazendo adoecer?
Talvez já tenha ouvido falar de expressões como: “menos é mais”, “idealizou, dançou”, “o ótimo é inimigo do bom”, “muito controle descontrola” e por aí vai.
Mas pode ser difícil baixar o sarrafo, não é mesmo?
Facilmente a sociedade nos molda a ansiar por mais e mais. Nossas mentes são treinadas desde cedo a hipervalorizar os primeiros colocados. Talvez já tenha visto pódios com atletas devastados ao atingirem uma 2ª, 3ª, 4ª colocação. Já viu isso ocorrer no ambiente familiar, profissional, escolar?
Claro que não é fácil perder. Mas o sentimento de grande frustração pela colocação não almejada – ou pela não concretização do plano perfeito traçado – pode ofuscar qualquer possível vitória. Com isso, podemos nos jogar muito pra baixo diante de pequenas derrotas.
Nosso modelo mental também pode nos pregar peças, colocando pra si metas equivocadas. Por vezes, podemos construir um plano que vai de A – B como se fosse uma linha reta, certeira. Mas a realidade geralmente é muito mais curva e caótica do que o planejado. Se aceitarmos com mais tranquilidade esta realidade caótica, pode ser mais fácil de encarar os altos e baixos da vida, as inevitáveis frustrações no caminhar e até de comemorar as pequenas vitórias.
Neste barco do alto sarrafo entram ingredientes complexos: da meritocracia, do perfeccionismo, da hiper competitividade, da compulsão, da ganância, do consumo desenfreado e do desejo impregnado pelo capitalismo por fama e riqueza. Com essa receita, uma jangada facilmente vira uma nau sem rumo.
Acabo de ouvir em um seminário a frase: ‘a segurança é uma ilusão’. Será que não ansiamos demais na tentativa de camuflar nossas fragilidades, inseguranças, limitações?!
Tente trabalhar mais os seus medos e questione regularmente os reais propósitos de suas expectativas e ambições.
Gosto muito da canção “Sinal Fechado” – de Paulinho da Viola – que demonstra o sofrimento de dois grandes amigos, que se mostram ‘perdidos’ neste turbilhão impresso pelas altas cobranças sociais. Ao se cruzarem no semáforo, angustiados, desabafam: “Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios (…) eu também só ando a cem. Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí, pra semana, prometo, talvez nos vejamos, quem sabe?”.
O ritmo da música traz angústia com suas notas pausadas. O sofrimento quase latente se transporta para a ‘alma’ do ouvinte. No fundo, os dois amigos vão indo “em busca de um sono tranquilo”. Provavelmente gostariam de tirar tamanha pressão interna impressa pelas nossas altas cobranças. Será mesmo essa a alma de seus negócios?
Epicuro, filósofo greco nascido em 341 a. C., já dizia em sua ‘Carta a Meneceu sobre a Felicidade’, sobre a importância dos prazeres moderados para a busca da verdadeira felicidade e da tranquilidade mental. Assim como Aristóteles, que enfatizava a importância de encontrarmos o meio-termo em nossas ações e comportamentos, sugerindo que evitássemos os excessos ou extremos. Tudo que a sociedade do consumo não nos vende.
Sêneca era outro filósofo que dizia que os frutos de nossas grandes frustrações eram justamente as nossas demasiadas expectativas. Enquanto Sócrates dizia que as nossas paixões e os nossos grandes anseios eram frutos de crenças pessoais. Nesse sentido, mudar as nossas crenças e amenizar os nossos anseios poderiam ser caminhos alternativos pela busca de padrões mais alinhados à nossa tranquilidade mental.
E aí, já tentou baixar as suas expectativas pensando na saúde mental?
Autoria: Felipe Moretti